3.12.09


Atendimento médico é deficiente em Belém e no interior do Estado
“falta de médicos” tem sido um dos motivos mais usados para justificar o caos que todos os dias centenas de pessoas enfrentam nos prontos socorros da capital e do interior. O problema, que não é novo, se torna ainda maior quando se fala em atendimento médico especializado.

Dados do Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) mostram que dos cinco mil profissionais cadastrados no órgão, pouco mais de dois mil possuem alguma especialidade, para atender uma população de 7,4 milhões de habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para complicar ainda mais este cenário, 25% dos médicos escolheram as especialidades de pediatria, dermatologia, cirurgia plástica, medicina do trabalho, obstetrícia, medicina interna ou clinica médica. “Existem especialidades importantíssimas que nós só temos dois ou três profissionais. Hoje em dia, as pessoas optam por aquilo que dá mais dinheiro”, disse João Gouveia, diretor do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa).

Para exemplificar, Gouveia citou a especialidade de geriatria, responsável pelo tratamento do idoso. “Só existem dois geriatras em todo o Pará. Mesmo com a expectativa de vida aumentando, são poucos os que se interessam por essa área”, ressaltou. Outras especialidades como cirurgia vascular, endocrinologia e cancerologia também apresentam escassez no número de profissionais e aparecem na lista do CRM-PA com apenas um médico cadastrado.

DEFICIÊNCIA

Outra preocupação que gira em torno desse assunto, é que 80% desses médicos com alguma especialidade atuam na capital, os outros 20% se dividem para atender nos outros 143 municípios. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a proporção seja de um médico para cada grupo de mil habitantes. Hoje, cada médico que vive no interior do Estado atende a pelo menos 4,5 mil habitantes.

“O médico que se especializa prefere trabalhar em Belém, pois sabe que terá melhores condições para continuar estudando e fazer plano de carreira. No interior não tem infraestrutura e as condições de trabalho são bem precárias”, explicou Gouveia.

O prefeito do município de Portel e presidente da Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM), Pedro Barbosa, falou sobre a dificuldade em contratar médicos com e sem especialidade para o interior. Mesmo oferecendo altos salários, são poucos os que aceitam a proposta. “O único cirurgião que temos em Portel, recebe R$ 30 mil por mês. Além dele, temos um clínico geral que atende os casos de urgência. Mesmo a oferta sendo boa, é difícil encontrar quem queira”, disse o prefeito.

O médico Adriano Villacorta, passou por essa “tentação”. Logo que se formou, em 2007, recebeu uma proposta de R$ 15 mil para trabalhar no município de Breves, na Ilha do Marajó, distante 605 Km de Belém. Mas, quando conheceu o posto de saúde onde iria trabalhar, ele logo desistiu da ideia. “Além de ser muito longe da capital, não tinha material básico para atendimento e qualquer caso mais grave teria que ser mandado para Belém”.

Para o presidente da AMAM, uma solução para o caso seria a criação de uma faculdade de medicina na Ilha do Marajó. “Assim, poderíamos formar profissionais aqui mesmo, na nossa terra”.

A Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) foi procurada pelo DIÁRIO, mas até o fechamento desta edição não enviou os dados solicitados pela reportagem. (Diário do Pará)

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BATE PAPO PORTELENSE